domingo, 27 de janeiro de 2008

Tempo


Acordo de noite subitamente.

E o meu relógio ocupa a noite toda.
Não sinto a Natureza lá fora,
O meu quarto é uma coisa escura com paredes vagamente brancas.
Lá fora há um sossego como se nada existisse.
Só o relógio prossegue o seu ruído.
E esta pequena coisa de engrenagens que está em cima da minha mesa
Abafa toda a existência da terra e do céu...
Quase que me perco a pensar o que isto significa,
Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca,
Porque a única coisa que o meu relógio simboliza ou significa
É a curiosa sensação de encher a noite enorme
Com a sua pequenez...

Alberto Caeiro (1914)

2 comentários:

f@ disse...

Nunca acordo de noite
O meu relógio pára ao adormecer,
insana no meu quarto sem tecto...no céu do sonho onde nada nen tic tac nenhum se escuta...
o ruído sou eu roidinha de sono todas as manhãs...
que o tecto fecha-se e a existência terrena fecha-me a cadeado .
e... a unica coisa que simboliza o não ter relógio é sempre a minha urgência de + tempo e melhor ...
infinito o tempo se tb fôr infinito o olhar....

Sem nexo ....
desculpem todos e beijito

Olá!! disse...

Um bonito momento de reflexão sobre o tempo... quem inventou o tempo deveria estar a arder no inferno.... ;)))